Tarsila do Amaral em Paris
Em 2019 o MASP em São Paulo recebeu o que pode ser considerada a maior exposição solo de Tarsila do Amaral. Mais de 400 mil pessoas foram apreciar, ou conhecer o trabalho de uma das mais reconhecidas pintoras da história do Brasil.
Infelizmente não consegui ir naquela exposição no MASP, mas agora 5 anos depois pude ver de perto outra exposição também histórica. Em Paris, no Musée du Luxembourg visitei uma exposição inteiramente dedicada a obra de Tarsila, com mais de 150 trabalhos!
Apesar do reconhecimento nacional, poucas exposições foram dedicadas à obra da artista no exterior. Sua primeira exposição solo fora do Brasil, foi justamente em Paris no ano de 1926, quase 100 anos atrás.
Tarsila nasceu numa fazenda no interior de São Paulo no ano de 1886, integrante de uma família da elite paulista, passou sua infância na fazenda e depois foi completar seus estudos em Barcelona. Retornando ao Brasil em 1917, estuda com Pedro Alexandrino (importante pintor brasileiro) e depois com George Fischer ( pintor alemão), antes de retornar a europa em 1920, para estudar e morar em Paris.
O tempo que ela passou estudando na Europa influenciou bastante sua técnica, seu referencial e também a construção da sua identidade como mulher brasileira. É possível observar a atuação desse conjunto na evolução da sua obra.
É verdade que algumas pinturas retratam um Brasil “exótico”, perfeito ao gosto europeu da época onde ainda se conhecia pouco sobre a arte brasileira. Obras como “A Negra” (1923) ou "Morro da Favela” (1924) são bons exemplos e carregam uma carga das coisas que Tarsila também trazia consigo como parte da elite paulista. A sua arte colhe os frutos da sua própria história, das suas vivências e da sua maneira de enxergar o mundo. A lente que ela usa é particular dela mesma e não poderia ser usada por ninguém mais. Com o passar dos anos seu estilo e interesses mudam, assim como a própria artista deve ter mudado.
Pessoalmente admiro a obra de Tarsila, que considero interessante, criativa e corajosa. Temos histórias de vida muito diferentes, mas isso não impediu que eu me sentisse conectado a alguns dos seus trabalhos e também a sua prática como pintora. Desde o início da sua carreira, ela não se limitou ao experimentar estilos e misturar as várias referências que encontrava pelo caminho. É extremamente difícil sintetizar tantas coisas juntas (ainda longe de casa) e ela foi capaz de fazer isso com maestria.
Foi uma experiência única, ver de perto em Paris, esses importantes pedaços da história da arte brasileira. Observei com atenção alguns detalhes das pinturas, mas principalmente as histórias que estavam por trás de cada uma delas.
Grande parte da exibição está em Francês, por isso usei o audio guia como complemento para as informações que não conhecia. O museu também disponibiliza um PDF que pode ser baixado no celular. Decidi salvar o material, mas não ler durante a exposição. Tentei aproveitar o máximo da experiência no presente e sem deixar a mediação da tela de vidro me atrapalhar. Fui e voltei nas pinturas diversas vezes, enquanto também observava a reação dos visitantes da exposição.
Um dos itens mais valiosos que tive contato na exposição foi um diário de viagens, lá estão diversos items que a artista guardou como recordações das suas experiências. Colagens de fotos, recibos, cartões de hotéis, folhetos de apresentações, exibições e mais. Em uma versão digital era possível ver tudo, realmente incrível!
Fiquei emocionado na exposição, grato por essa oportunidade e inspirado pelas coisas que vi. Na minha opinião, Tarsila foi uma grande e muito valiosa artista brasileira. Nada nunca poderár mudar isso. Essa exposição em um museu tão importante de Paris, quase 100 anos depois, coroa a trajetória dela e abre ainda mais espaço para arte brasileira na Europa. Acredito que ainda existe muito o que se mostrar das outras versões do Brasil que são desconhecidas por aqui.